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A pandemia pelo coronavirus, COVID-19, espalhou-se rapidamente pelo mundo causando sérios problemas à saúde, à economia e provocando uma desorganização social. Então, não havendo tratamento efetivo ou vacina disponível, a discussão entre imunidade, infecção e nutrição tornou-se um campo importante de ação para o combate ao vírus.

Em trabalhos recentes mostram que vitaminas (A, B6 , B12, C, D, E), além de alguns oligoelementos (zinco, ferro, selênio, magnésio e cobre), têm um papel importante na manutenação da imunidade inata e adaptativa. Por isso, as deficiências ou doses inferiores destes nutrientes às recomendadas podem afetar negativamente o funcionamento do sistema imune e comprometer o combate às infecções.

A imunidade inata e adaptativa

Na imunidade inata (primeira resposta não específica à agressão), estes nutrientes agem na manutenção da integridade das barreiras físicas da pele e do tubo digestivo; à produção de proteínas antimicrobianas; ao estímulo ao crescimento, à diferenciação, à mobilidade e à fagocitose dos neutrófilos, macrófagos e das células Killer; e ao reconhecimento dos patógenos por receptores não específicos e na resolução da inflamação. Este sistema inato reconhece e destrói a ameaça “non-self”, através de uma resposta inflamatória. E, assim, após sua resolução, reparar todos os danos causados pelo agressor, seja ele um vírus ou bactéria.

Já na adaptativa, a responsável pela produção dos anticorpos específicos, e, portanto, mais lenta, tais nutrientes estimulam a proliferação dos linfócitos T e B, a produção de citocinas e anticorpos. A vitamina C tem um reconhecido papel na imunidade inata no reforço às barreiras físicas e no estímulo da fagocitose pelas neutrófilos; na imunidade adaptativa, esta vitamina promove a produção dos anticorpos específicos. A vitamina D, por sua vez, estimula a diferenciação dos monócitos a macrófagos, aumentando sua capacidade de destruição dos patógenos.

O papel das vitaminas no sistema imunológico

A suplementação das vitaminas C e D, demonstrada por estudos clínicos, pode reduzir o risco de pneumonias, ou mesmo a sua intensidade e duração. Sabe-se também, que uma reposição adequada de vitamina A promove o fortalecimento do sistema imunológico e a defesa contra infecção. A deficiência de zinco resulta em alterações na imunidade humoral e celular e pode aumentar a susceptibilidade às infecções. O selênio, em combinação com a vitamina E, reduz a formação de radicais livres e a consequente lesão celular e tecidual provocada pelo stress oxidativo. Além do que dietas pobres em selênio podem tornar um genoma viral benigno altamente virulento.

Quanto à inflamação, parte integrante da resposta imune às agressões, quando exacerbada, pode agravar a evolução dos quadros clínicos infecciosos. O aumento da ingesta dos ácidos graxos ômega-3, responsáveis por produção de citocinas menos inflamatórias, pode ser útil para um desfecho mais adequado desse processo. Além desta propriedade, os produtos de degradação dos ácidos graxos do ômega-3, no local da inflamação, produzem substâncias como as resolvinas, protectinas e maresinas. Estas, associadas a outras moléculas, são responsáveis pela resolução da inflamação e a consequente cicatrização das estruturas lesadas. Por esta razão, a ingesta de uma dieta adequada e balanceada pode suprir a necessidade desses nutrientes.

Porém, mesmo em países desenvolvidos, foram detectadas ingestas insuficientes de Vitaminas A, C, D e E, folato, zinco e selênio. Deve-se salientar que, nos momentos de stress ou de infecção, ingestas acima da RDA (doses diárias recomendadas) são indicadas para manter uma plena atividade do sistema imune.

Suplementação

O Ganuttrir elaborou um suplemento com a seguinte formulação: 1000 mcg de Vitamina A,  1000 mg de Vitamina C, 400 mg de Vitamina E, 50 mcg de Vitamina D, 30 mg de Zinco quelado, 400 mg de lisina, 100 mcg de selênio – outro aminoácido com ação antiviral, e 1000 mg de ômega 3 (400 mg de DHA e 500 mg de EPA), doses acima da RDA, mas muito distantes dos limites superiores de tolerância.  Embora este suplemento não proteja o indivíduo do contágio ou mesmo dos efeitos de uma infecção pelo COVID-19, sem dúvida, reforçará o seu estado nutricional e o sistema imune para um melhor enfrentamento da população contra esta pandemia. De acordo com a Sociedade Internacional de Imunonutrição (ISIN), em editorial publicado em março de 2020, a suplementação destes nutrientes poderia ser feita antes, durante ou mesmo após contágio pelo COVID-19.

                           

Autor: Ricardo Onofre
Diretor do Serviço de Saúde do Ganuttrir e Professor da Universidade Federal Fluminense

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