A epilepsia é uma das doenças neurológicas crônicas mais comuns no mundo, afetando quase 50 milhões de pessoas. É caracterizada por uma predisposição permanente do cérebro em originar crises epilépticas, resultado de uma atividade elétrica anormal do órgão, o que causa convulsões ou comportamento e sensações incomuns, podendo levar até à perda de consciência.
Esta condição pode se desenvolver em qualquer fase da vida, sendo mais prevalente em crianças e idosos, estando associada a uma maior mortalidade, em virtude do risco de acidentes e traumas, crises prolongadas e morte súbita; a um risco aumentado de comorbidades psiquiátricas, sobretudo depressão e ansiedade; como também a inúmeros problemas psicossociais levando o indivíduo ao isolamento social e desemprego.
Condições para a existência da Epilepsia
O risco de morte prematura entre pessoas com Epilepsia é até três vezes maior do que entre a população em geral. Em países de baixa e média renda, a taxa de morte prematura entre indivíduos com esse problema de saúde é significativamente maior do que nos países de renda alta.
Uma crise é a ocorrência transitória de sinais ou sintomas clínicos secundários a uma atividade neuronal anormal excessiva ou sincrônica. A definição de epilepsia requer a ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica. Do ponto de vista prático, a epilepsia pode ser definida por uma das seguintes condições:
- Ao menos duas crises não provocadas (ou reflexas) ocorrendo com intervalo maior que 24 horas;
- Uma crise não provocada (ou reflexa) e probabilidade de novas crises ocorrerem nos próximos 10 anos, similar ao risco de recorrência geral (pelo menos 60%) após duas crises não provocadas;
- Diagnóstico de uma síndrome epiléptica.
O diagnóstico deve ser feito seguindo níveis de classificação, sendo iniciado pelo tipo de crise apresentada e juntando-se a outras características clínicas e eletroencefalográficas.
De acordo com o Ministério da Saúde “o objetivo do tratamento da epilepsia é propiciar a melhor qualidade de vida possível para o paciente, pelo alcance de um adequado controle de crises, com um mínimo de efeitos adversos, buscando, idealmente, uma remissão total das crises”. O tratamento inicial de escolha é medicamentoso, sendo necessário, frequentemente, a associação de mais de um medicamento de primeira linha. Porém muitos pacientes são resistentes à terapia multi medicamentosa, o que não reduz o número de episódios convulsivos, sendo caracterizado o quadro de Epilepsia Refratária, que exige a associação de outras condutas terapêuticas para o controle das crises.
Dieta Cetogênica para controle de Epilepsia Refratária
Estima-se que a Epilepsia Refratária esteja presente em aproximadamente 30% dos casos de Epilepsia. Quando ocorre a persistência na frequência de crises epilépticas após o uso de, pelo menos dois fármacos antiepiléticos de primeira linha, estas são classificadas como Epilepsia Refratária ou de difícil controle ou Farmacorresistentes. Todos estes nomes dados às crises incontroláveis por medicamentos exigem uma reavaliação de conduta de modo a considerar a indicação da Dieta Cetogênica como alternativa eficaz. Afinal, quanto mais precoce o início da dieta, maior a chance de remissão parcial ou total das crises epilépticas.
A Dieta Cetogênica é uma opção terapêutica em crianças com Epilepsia Refratária; em crianças com efeitos colaterais intoleráveis aos medicamentos antiepiléticos; e/ou em crianças que apresentem algumas doenças metabólicas, como por exemplo na Deficiência do Transportador de Glicose tipo I (GLUT1 DS) e Desidrogenase de Piruvato Deficiência Complexa (PDHC).
Trata-se de uma dieta rica em gorduras, adequada em proteínas e pobre em carboidratos que mimetiza o estado metabólico do jejum, enquanto está em estado anabólico. Os efeitos benéficos da Dieta Cetogênica nas convulsões de difícil controle já foram comprovados em diversos estudos. O uso da Dieta Cetogênica pode promover uma redução de 50% das crises em 38-72% dos pacientes nos três meses de intervenção dietética.