Nutrição na gestação

Gestantes de risco

A gestação é um fenômeno ­fisiológico e deve ser vista pelas gestantes e profissionais da área da saúde como um processo natural que envolve mudanças dinâmicas do ponto de vista físico, social e emocional.

O acompanhamento pré-natal muitas vezes é um fator decisivo para o bom resultado da gestação. Durante o acompanhamento é possível identificar gestantes que, por características particulares, apresentam maior probabilidade de evolução desfavorável, são as chamadas “gestantes de alto risco”.

Gestação de Alto Risco é “aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada”.

Embora os esforços tenham sido feito com o intuído de criar um sistema eficiente de pontuação e tabelas para estratificar as gestantes de alto risco das de baixo risco, esses não foram capazes de gerar uma classificação que fosse efetiva em predizer problemas de maneira acurada. Sabe-se no entanto, que existem fatores de risco conhecidos mais comuns na população em geral, que devem ser identi­ficados nas gestantes pois podem alertar os profissionais de saúde no sentido de uma vigilância maior com relação ao eventual surgimento de fator complicador.

Algumas mulheres apresentam previamente à gestação marcadores e fatores de risco gestacionais, como por exemplo: idade menor que 15 anos ou acima de 35 anos, estado nutricional prévio comprometido com índice de massa corporal (IMC) abaixo de 19 ou acima de 30, presença de doenças crônicas (como diabetes ou hipertensão arterial), dificuldade para engravidar ou abortos espontâneos, dentre inúmeros outros fatores.

No entanto, algumas outras vezes os problemas que levam a uma gestação de alto risco podem ocorrer durante o período gestacional, como o caso do desenvolvimento de diabetes gestacional, síndromes hipertensivas, ganho de peso excessivo durante a gestação, doenças infecciosas e mesmo má formação fetal.

Os profi­ssionais que prestam assistência a gestantes devem estar atentos à existência desses fatores de riscos e devem ser capazes de avaliá-los dinamicamente, de maneira a determinar o momento em que a gestante necessitará de assistência especializada, redução no espaçamento das consultas ou mesmo encaminhamento para outros profi­ssionais de saúde de áreas específicas.

Os riscos maternos durante a gestação em si não devem ser subestimados. Uma meta-análise recente estimou que 23,9% de todas as complicações na gravidez estariam atribuídas à obesidade ou excesso de peso materno. As gestantes obesas estão mais propensas sofrerem de uma ampla variedade de complicações na gravidez, desde dificuldade em engravidar e aumento do aborto espontâneo a defeitos congênitos, distúrbios hipertensivos, diabetes mellitus gestacional, natimortalidade, macrossomia ou mesmo restrição de crescimento fetal.

Uma intervenção pré-conceptiva com uma conduta nutricional adequadamente planejada e executada, aliada à atividade física e outras mudanças no estilo de vida parecem ser a melhor estratégia para evitar as complicações que a obesidade e/ou excesso de peso podem acarretar à mãe e à sua prole. Otimizando desta forma a saúde materna, levando a uma melhoria no ambiente in útero e, inclusive, promovendo mudanças na saúde do bebê. 

O Diabetes mellitus gestacional (DMG) também é uma condição que requer atenção e tem mostrado continuamente uma prevalência crescente ao longo dos anos, juntamente com a crescente epidemia de obesidade. Estima-se que 16,8% das mulheres grávidas em todo o mundo sofrem de DMG. Quando não diagnosticada e não tratada adequadamente, se mostra associada a inúmeras complicações, tanto para a mãe quanto para o recém-nascido, como pré-eclâmpsia, parto prematuro, macrossomia, morte fetal intra-uterina, dentre outros.

Atualmente, ainda existem divergências entre as diretrizes com relação ao tratamento mais efetivo da DMG, se com o uso de terapia nutricional simples ou combinada ao uso de insulina ou terapias orais. Estima-se que cerca de 70 a 85% das pacientes com DMG são controláveis ​​apenas com terapia nutricional.

Outro quadro que preocupa os profissionais que fazem o acompanhamento pré natal, é o de transtornos hipertensivos da gravidez. Sendo considerado uma das principais causas de mortalidade e morbidade materna e fetal em todo o mundo. Além disso há evidências crescentes de que estaria associada a um risco aumentado de doenças cardiovascular materna posteriormente.

Os Transtornos Hipertensivos da Gravidez, definidos como hipertensão gestacional, hipertensão arterial crônica, pré-eclâmpsia, hipertensão arterial crônica sobreposta por pré-eclâmpsia, são distúrbios sistemáticos específicos da gravidez que afetam globalmente 5 a 10% de todas as gestações.

A pré-eclâmpsia é uma doença multifatorial e multissistêmica, que se manifesta em gestante previamente normotensa, após a 20ª semana de gestação.  É classicamente diagnosticada pela presença de hipertensão arterial associada à proteinúria, embora atualmente também se considera pré-eclâmpsia quando, na ausência de proteinúria, ocorre disfunção de órgãos-alvo.

O manejo nutricional ambulatorial durante a pré-eclâmpsia consiste na orientação pra uma alimentação equilibrada e balanceada, com adequado fracionamento, normossódica, evitando-se os alimentos ultraprocessados e ricos em sódio. Deverá ainda ser hiperproteica (2g de proteína/Kg/dia) e adequada em vitaminas e minerais (especialmente A, C, E, Cálcio). Os alimentos com alto teor de lipídios saturados e ácidos graxos trans também deve ser evitados, além de estimular o consumo de 2 a 3 porções de peixe/semana.

O ideal é que a gestante tenha acompanhamento nutricional desde o primeiro trimestre da gestação. Desta forma é possível fazer uma avaliação detalhada de seu estado nutricional, corrigir possíveis deficiências de vitaminas e minerais e prover adequado ganho de peso durante a gestação. Em algumas situações o aconselhamento nutricional personalizado minimiza o risco do desenvolvimento de fatores desencadeadores de uma gestação de risco, ou ainda auxiliam no manejo dessa gestante de risco.

Sendo assim, cada vez mais o cuidado nutricional pré-natal tem sido valorizado pelo seu impacto positivo no manejo do estado nutricional materno, nas condições ao nascer e por colaborar com a redução da morbimortalidade perinatal e neonatal.

Referências 

  • Caderneta da Gestante. Ministério da Saúde. Brasília, 2014.
  • Elizabeth A, Hoover M D, Judette M L. Optimizing Health Weight, Exercise, and Nutrition in Pregnancy and Beyond. Obstet Gynecol Clin N Am 2019; 46:431–440.
  • Oussalah A, et al. Health outcomes associated with vegetarian diets: An umbrela review of systematic reviews and meta-analyses. Clinical Nutrition 2020. In press.
  • Rottenstreich A, et al. Maternal nutritional status and related pregnancy outcomes following bariatric surgery: A systematic review. Surgery for Obesity and Related Diseases 2019; 15: 324–332.
  • Saunders C, Chagas C B. Síndromes Hipertensivas da Gravidez. In: Accioly E; Saunders C, Lacerda E M A. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. Editora Cultura Médica/Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2012: 177-194. ISBN 978-85-7006-444-8 2a. edição revisada e 2a. reimpressão revisada e atualizada.
  • Seymour J V, Beck K L, Conlon, C A. Nutrition in pregnancy. Obstetrics, gynaecology and reproductive medicine 2019; 29 (8): 219-224.

Nutrição na gestação

Gestantes de risco

A gestação é um fenômeno ­fisiológico e deve ser vista pelas gestantes e profissionais da área da saúde como um processo natural que envolve mudanças dinâmicas do ponto de vista físico, social e emocional.

O acompanhamento pré-natal muitas vezes é um fator decisivo para o bom resultado da gestação. Durante o acompanhamento é possível identificar gestantes que, por características particulares, apresentam maior probabilidade de evolução desfavorável, são as chamadas “gestantes de alto risco”.

Gestação de Alto Risco é “aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada”.

Embora os esforços tenham sido feito com o intuído de criar um sistema eficiente de pontuação e tabelas para estratificar as gestantes de alto risco das de baixo risco, esses não foram capazes de gerar uma classificação que fosse efetiva em predizer problemas de maneira acurada. Sabe-se no entanto, que existem fatores de risco conhecidos mais comuns na população em geral, que devem ser identi­ficados nas gestantes pois podem alertar os profissionais de saúde no sentido de uma vigilância maior com relação ao eventual surgimento de fator complicador.

Algumas mulheres apresentam previamente à gestação marcadores e fatores de risco gestacionais, como por exemplo: idade menor que 15 anos ou acima de 35 anos, estado nutricional prévio comprometido com índice de massa corporal (IMC) abaixo de 19 ou acima de 30, presença de doenças crônicas (como diabetes ou hipertensão arterial), dificuldade para engravidar ou abortos espontâneos, dentre inúmeros outros fatores.

No entanto, algumas outras vezes os problemas que levam a uma gestação de alto risco podem ocorrer durante o período gestacional, como o caso do desenvolvimento de diabetes gestacional, síndromes hipertensivas, ganho de peso excessivo durante a gestação, doenças infecciosas e mesmo má formação fetal.

Os profi­ssionais que prestam assistência a gestantes devem estar atentos à existência desses fatores de riscos e devem ser capazes de avaliá-los dinamicamente, de maneira a determinar o momento em que a gestante necessitará de assistência especializada, redução no espaçamento das consultas ou mesmo encaminhamento para outros profi­ssionais de saúde de áreas específicas.

Os riscos maternos durante a gestação em si não devem ser subestimados. Uma meta-análise recente estimou que 23,9% de todas as complicações na gravidez estariam atribuídas à obesidade ou excesso de peso materno. As gestantes obesas estão mais propensas sofrerem de uma ampla variedade de complicações na gravidez, desde dificuldade em engravidar e aumento do aborto espontâneo a defeitos congênitos, distúrbios hipertensivos, diabetes mellitus gestacional, natimortalidade, macrossomia ou mesmo restrição de crescimento fetal.

Uma intervenção pré-conceptiva com uma conduta nutricional adequadamente planejada e executada, aliada à atividade física e outras mudanças no estilo de vida parecem ser a melhor estratégia para evitar as complicações que a obesidade e/ou excesso de peso podem acarretar à mãe e à sua prole. Otimizando desta forma a saúde materna, levando a uma melhoria no ambiente in útero e, inclusive, promovendo mudanças na saúde do bebê. 

O Diabetes mellitus gestacional (DMG) também é uma condição que requer atenção e tem mostrado continuamente uma prevalência crescente ao longo dos anos, juntamente com a crescente epidemia de obesidade. Estima-se que 16,8% das mulheres grávidas em todo o mundo sofrem de DMG. Quando não diagnosticada e não tratada adequadamente, se mostra associada a inúmeras complicações, tanto para a mãe quanto para o recém-nascido, como pré-eclâmpsia, parto prematuro, macrossomia, morte fetal intra-uterina, dentre outros.

Atualmente, ainda existem divergências entre as diretrizes com relação ao tratamento mais efetivo da DMG, se com o uso de terapia nutricional simples ou combinada ao uso de insulina ou terapias orais. Estima-se que cerca de 70 a 85% das pacientes com DMG são controláveis ​​apenas com terapia nutricional.

Outro quadro que preocupa os profissionais que fazem o acompanhamento pré natal, é o de transtornos hipertensivos da gravidez. Sendo considerado uma das principais causas de mortalidade e morbidade materna e fetal em todo o mundo. Além disso há evidências crescentes de que estaria associada a um risco aumentado de doenças cardiovascular materna posteriormente.

Os Transtornos Hipertensivos da Gravidez, definidos como hipertensão gestacional, hipertensão arterial crônica, pré-eclâmpsia, hipertensão arterial crônica sobreposta por pré-eclâmpsia, são distúrbios sistemáticos específicos da gravidez que afetam globalmente 5 a 10% de todas as gestações.

A pré-eclâmpsia é uma doença multifatorial e multissistêmica, que se manifesta em gestante previamente normotensa, após a 20ª semana de gestação.  É classicamente diagnosticada pela presença de hipertensão arterial associada à proteinúria, embora atualmente também se considera pré-eclâmpsia quando, na ausência de proteinúria, ocorre disfunção de órgãos-alvo.

O manejo nutricional ambulatorial durante a pré-eclâmpsia consiste na orientação pra uma alimentação equilibrada e balanceada, com adequado fracionamento, normossódica, evitando-se os alimentos ultraprocessados e ricos em sódio. Deverá ainda ser hiperproteica (2g de proteína/Kg/dia) e adequada em vitaminas e minerais (especialmente A, C, E, Cálcio). Os alimentos com alto teor de lipídios saturados e ácidos graxos trans também deve ser evitados, além de estimular o consumo de 2 a 3 porções de peixe/semana.

O ideal é que a gestante tenha acompanhamento nutricional desde o primeiro trimestre da gestação. Desta forma é possível fazer uma avaliação detalhada de seu estado nutricional, corrigir possíveis deficiências de vitaminas e minerais e prover adequado ganho de peso durante a gestação. Em algumas situações o aconselhamento nutricional personalizado minimiza o risco do desenvolvimento de fatores desencadeadores de uma gestação de risco, ou ainda auxiliam no manejo dessa gestante de risco.

Sendo assim, cada vez mais o cuidado nutricional pré-natal tem sido valorizado pelo seu impacto positivo no manejo do estado nutricional materno, nas condições ao nascer e por colaborar com a redução da morbimortalidade perinatal e neonatal.

Referências 

  • Caderneta da Gestante. Ministério da Saúde. Brasília, 2014.
  • Elizabeth A, Hoover M D, Judette M L. Optimizing Health Weight, Exercise, and Nutrition in Pregnancy and Beyond. Obstet Gynecol Clin N Am 2019; 46:431–440.
  • Oussalah A, et al. Health outcomes associated with vegetarian diets: An umbrela review of systematic reviews and meta-analyses. Clinical Nutrition 2020. In press.
  • Rottenstreich A, et al. Maternal nutritional status and related pregnancy outcomes following bariatric surgery: A systematic review. Surgery for Obesity and Related Diseases 2019; 15: 324–332.
  • Saunders C, Chagas C B. Síndromes Hipertensivas da Gravidez. In: Accioly E; Saunders C, Lacerda E M A. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. Editora Cultura Médica/Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2012: 177-194. ISBN 978-85-7006-444-8 2a. edição revisada e 2a. reimpressão revisada e atualizada.
  • Seymour J V, Beck K L, Conlon, C A. Nutrition in pregnancy. Obstetrics, gynaecology and reproductive medicine 2019; 29 (8): 219-224.