Nutrição em pediatria

Erros Inatos do Metabolismo

Doenças Raras ou também conhecidas como órfãs são aquelas que afetam até 65 pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos. 

Geralmente estas doenças são crônicas, progressivas e incapacitantes, podendo ser degenerativas e também levar à morte, afetando a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias.

Atualmente o Brasil conta com cerca de 13 milhões de pessoas com algum tipo de Doença Rara. Elas são classificadas segundo quatro principais fatores: incidência, raridade, gravidade e diversidade.

O número exato de Doenças Raras não é conhecido. Estima-se que existam entre 6.000 a 8.000 tipos diferentes de Doenças Raras identificadas em todo o mundo.

As Doenças Raras podem ser de Origem genética ou não mas, a maior prevalência, 80% são as de origem genética.

Os Erros Inatos do Metabolismo (EIM) representam 10% das Doenças Raras de Origem Genética. A expressão Erro Inato do Metabolismo foi criada em 1808 por Garrot, para descrever as doenças determinadas geneticamente, causadas por um defeito enzimáticos específico que leva a um bloqueio em vias metabólicas específicas, com consequente acúmulo de substrato ou deficiência de um produto. Elas são Raras quando investigadas individualmente, em conjunto são bastante frequentes apresentando um aumento expressivo, de sua incidência, ao longo dos últimos anos.

Cerca de 500 tipos de EIM já foram identificados e, a base de identificação deste grupo de doenças é de origem bioquímica, considerando que o mecanismo destas envolve defeitos em uma ampla variedade de proteínas, receptores de membrana, proteínas do colágeno, proteínas de transporte, hormônios peptídicos, imunoglobulinas, fatores de coagulação e defeitos nos processos de glicosilação proteica.

O EIM pode aparecer em qualquer idade sendo mais frequente o aparecimento, dos primeiros sintomas, no primeiro ano de vida.

O diagnóstico precoce permite o aconselhamento familiar com orientação do risco de reincidência nas próximas gestações e, principalmente no tratamento adequado, na qualidade de vida dos pacientes e seus familiares evitando, muitas das vezes, o comprometimento físico e mental.

A investigação do diagnóstico deve ocorrer na primeira semana de vida, antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Isto é permitido através do programa de Triagem Neonatal cujo principal exame é o teste do pezinho. O teste do pezinho básico é oferecido de forma gratuita pelas unidades hospitalares e permite identificar somente seis doenças entretanto, hoje com o aumento da prevalência de casos e, o surgimento de novos tipos de EIM busca-se aprovação para ampliar o teste de modo a detectar mais de 50 tipos diferentes de EIM. Isto vai possibilitar uma identificação mais rápida e segura de outras doenças e, se necessário, solicitar o diagnóstico diferenciado com exames complementares como o perfil de ácidos graxos e acil carnitinas, dentre outros.

É importante pensar em EIM, nas seguintes situações: história familiar positiva, consangüinidade, involução ou atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, convulsões, síndrome de West, ataxia, hipotonia ou hipertonia, hipoglicemia, acidose metabólica, discrasias sanguíneas, hepatomegalia e/ou esplenomegalia, letargia, coma, estado neurológico flutuante, anormalidades oculares, anormalidades de cabelos, odor anormal de urina e suor e quadros psiquiátricos sem etiologia, em qualquer idade.

Em linhas gerais pode-se resumir que existem protocolos clínicos validados no tratamento destas doenças porém, numa crise metabólica aguda, por exemplo, o tratamento envolve proporcionar ampla hidratação endovenosa contendo quantidades importantes de glicose (pelo menos 10% de dextrose), para reverter a hipoglicemia, um dos primeiros sintomas e, reduzir o catabolismo. Bicarbonato também é administrado para reverter a acidose metabólica, Carnitina é suplementada para formar propionilcarnitina, que facilita a excreção de propionil-CoA dentre outras condutas básicas emergenciais. Em casos de acidose metabólica intratável ou coma, a hemodiálise está indicada para ajudar a corrigir o distúrbio bioquímico e eliminar os intermediários tóxicos.

 Os Erros Inatos do Metabolismo Intermediário são os mais prevalentes e este geram desordens que são caracterizadas por intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva. Fazem parte deste grupo as aminoacidopatias, os defeitos dos ácidos orgânicos e do ciclo da ureia e, as intolerâncias aos açúcares.

As desordens do metabolismo intermediário representam cerca de 80% dos EIM ecompartilham semelhanças clínicas sendo a maioria delas tratáveis pela remoção de emergência do metabólito tóxico não utilizado pelo organismo sendo necessário recorrer como conduta terapêutica adequada com dietas especiais, procedimentos extracorpóreos ou a farmacoterapia.

Referências

  • Yahyaoui, R and Pérez-Frías, J. Amino Acid Transport Defects in Human Inherited Metabolic Disorders. Int. J. Mol. Sci. 2020, 21, 119
  • Häberle et al. Hyperammonaemia in classic organic acidaemias: a review of the literature and two case histories. Orphanet Journal of Rare Diseases (2018) 13:219
  • Tatyana N.TarasenkoPeter J.McGuireThe liver is a metabolic and immunologic organ: A reconsideration of metabolic decompensation due to infection in inborn errors of metabolism (IEM). Molecular Genetics and Metabolism. Volume 121, Issue 4, August 2017, Pages 283-288
  • Freitas, BNM, da Silva, DFM, Costa, GC, de Souza, ZES, Mazeto, TK. A Importância do Teste do Pezinho Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. Esp. jul./dez., p. 02-13, 2015.
  • Federhen A, Vairo FP, Vanzella C, Boer AP, Baldo G, Giugliani R. Clinical research and rare diseases: the Brazilian situationJ Bras Econ Saúde; 2014 Supl.(1): 17-23

Nutrição em pediatria

Erros Inatos do Metabolismo

Doenças Raras ou também conhecidas como órfãs são aquelas que afetam até 65 pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos. 

Geralmente estas doenças são crônicas, progressivas e incapacitantes, podendo ser degenerativas e também levar à morte, afetando a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias.

Atualmente o Brasil conta com cerca de 13 milhões de pessoas com algum tipo de Doença Rara. Elas são classificadas segundo quatro principais fatores: incidência, raridade, gravidade e diversidade.

O número exato de Doenças Raras não é conhecido. Estima-se que existam entre 6.000 a 8.000 tipos diferentes de Doenças Raras identificadas em todo o mundo.

As Doenças Raras podem ser de Origem genética ou não mas, a maior prevalência, 80% são as de origem genética.

Os Erros Inatos do Metabolismo (EIM) representam 10% das Doenças Raras de Origem Genética. A expressão Erro Inato do Metabolismo foi criada em 1808 por Garrot, para descrever as doenças determinadas geneticamente, causadas por um defeito enzimáticos específico que leva a um bloqueio em vias metabólicas específicas, com consequente acúmulo de substrato ou deficiência de um produto. Elas são Raras quando investigadas individualmente, em conjunto são bastante frequentes apresentando um aumento expressivo, de sua incidência, ao longo dos últimos anos.

Cerca de 500 tipos de EIM já foram identificados e, a base de identificação deste grupo de doenças é de origem bioquímica, considerando que o mecanismo destas envolve defeitos em uma ampla variedade de proteínas, receptores de membrana, proteínas do colágeno, proteínas de transporte, hormônios peptídicos, imunoglobulinas, fatores de coagulação e defeitos nos processos de glicosilação proteica.

O EIM pode aparecer em qualquer idade sendo mais frequente o aparecimento, dos primeiros sintomas, no primeiro ano de vida.

O diagnóstico precoce permite o aconselhamento familiar com orientação do risco de reincidência nas próximas gestações e, principalmente no tratamento adequado, na qualidade de vida dos pacientes e seus familiares evitando, muitas das vezes, o comprometimento físico e mental.

A investigação do diagnóstico deve ocorrer na primeira semana de vida, antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Isto é permitido através do programa de Triagem Neonatal cujo principal exame é o teste do pezinho. O teste do pezinho básico é oferecido de forma gratuita pelas unidades hospitalares e permite identificar somente seis doenças entretanto, hoje com o aumento da prevalência de casos e, o surgimento de novos tipos de EIM busca-se aprovação para ampliar o teste de modo a detectar mais de 50 tipos diferentes de EIM. Isto vai possibilitar uma identificação mais rápida e segura de outras doenças e, se necessário, solicitar o diagnóstico diferenciado com exames complementares como o perfil de ácidos graxos e acil carnitinas, dentre outros.

É importante pensar em EIM, nas seguintes situações: história familiar positiva, consangüinidade, involução ou atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, convulsões, síndrome de West, ataxia, hipotonia ou hipertonia, hipoglicemia, acidose metabólica, discrasias sanguíneas, hepatomegalia e/ou esplenomegalia, letargia, coma, estado neurológico flutuante, anormalidades oculares, anormalidades de cabelos, odor anormal de urina e suor e quadros psiquiátricos sem etiologia, em qualquer idade.

Em linhas gerais pode-se resumir que existem protocolos clínicos validados no tratamento destas doenças porém, numa crise metabólica aguda, por exemplo, o tratamento envolve proporcionar ampla hidratação endovenosa contendo quantidades importantes de glicose (pelo menos 10% de dextrose), para reverter a hipoglicemia, um dos primeiros sintomas e, reduzir o catabolismo. Bicarbonato também é administrado para reverter a acidose metabólica, Carnitina é suplementada para formar propionilcarnitina, que facilita a excreção de propionil-CoA dentre outras condutas básicas emergenciais. Em casos de acidose metabólica intratável ou coma, a hemodiálise está indicada para ajudar a corrigir o distúrbio bioquímico e eliminar os intermediários tóxicos.

 Os Erros Inatos do Metabolismo Intermediário são os mais prevalentes e este geram desordens que são caracterizadas por intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva. Fazem parte deste grupo as aminoacidopatias, os defeitos dos ácidos orgânicos e do ciclo da ureia e, as intolerâncias aos açúcares.

As desordens do metabolismo intermediário representam cerca de 80% dos EIM ecompartilham semelhanças clínicas sendo a maioria delas tratáveis pela remoção de emergência do metabólito tóxico não utilizado pelo organismo sendo necessário recorrer como conduta terapêutica adequada com dietas especiais, procedimentos extracorpóreos ou a farmacoterapia.

Referências

  • Yahyaoui, R and Pérez-Frías, J. Amino Acid Transport Defects in Human Inherited Metabolic Disorders. Int. J. Mol. Sci. 2020, 21, 119
  • Häberle et al. Hyperammonaemia in classic organic acidaemias: a review of the literature and two case histories. Orphanet Journal of Rare Diseases (2018) 13:219
  • Tatyana N.TarasenkoPeter J.McGuireThe liver is a metabolic and immunologic organ: A reconsideration of metabolic decompensation due to infection in inborn errors of metabolism (IEM). Molecular Genetics and Metabolism. Volume 121, Issue 4, August 2017, Pages 283-288
  • Freitas, BNM, da Silva, DFM, Costa, GC, de Souza, ZES, Mazeto, TK. A Importância do Teste do Pezinho Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 3, n. Esp. jul./dez., p. 02-13, 2015.
  • Federhen A, Vairo FP, Vanzella C, Boer AP, Baldo G, Giugliani R. Clinical research and rare diseases: the Brazilian situationJ Bras Econ Saúde; 2014 Supl.(1): 17-23