Nutrição em pediatria

Alergia e Intolerâncias Alimentares

Atualmente os termos alergia alimentar e intolerância alimentar são utilizados com frequência por uma gama variada de pessoas, sejam elas profissionais da área da saúde ou não. No entanto, ainda existe especialmente pelo público não profissional da área da saúde, uma certa confusão entre os termos e o que de fato significam.

Em algumas situações é possível desencadear reações adversas à alimentos. Isso significa que o organismo responde de uma maneira “não esperada” à determinado alimento ou múltiplos alimentos. Essas reações adversas podem ser classificadas em dois grupos, de acordo com os mecanismos fisiopatológicos envolvidos:

  • Não imunomediadas ou não imunológicas

Esse reação adversa depende basicamente da substância ingerida, acarretando uma reação tóxica (por exemplo uma toxina bacteriana que gera uma intoxicação alimentar); das propriedades farmacológicas presentes em alimentos (por exemplo uma reação à cafeína presente no café); ou ainda pela fermentação e efeito osmóticos de carboidratos ingeridos e não adequadamente digeridos e/ou absorvidos, levando à uma reação adversa metabólica (o exemplo mais conhecido usualmente é a intolerância à lactose).

  • Imunomediadas ou imunológicas

Esse tipo de reação tem por característica o envolvimento do sistema imunológico, mediados ou não por IgE. Usualmente acabamos utilizando o termo “alergia alimentar” para nos referirmos à essas reações. Essas reações de hipersensibilidade à alimentos podem ser classificadas, de acordo com o mecanismo imunológico que está envolvido em: mediadas por IgE, não medidas por IgE ou mistas (medidas por IgE e hipersensibilidade celular).

As intolerâncias alimentares mais comumente encontradas na prática clínica são as intolerâncias à lactose e ao glúten. Estipula-se que a sensibilidade metabólica à lactose afete cerca de 60 a 70% das pessoas em todo o mundo. A deficiência primária de lactose (enzima responsável pela digestão do açúcar presente no leite, denominado lactose) é a causa mais comum de intolerância à lactose, encontrada com frequência na América do Sul, África, Ásia e em descendentes dessas áreas.

A sintomatologia tem correlação direta com o conteúdo de lactose ingerido e a quantidade remanescente da enzima lactase, sendo o quadro de desconforto abdominal, inchaços, gases e diarreia o mais comumente encontrados. A deficiência secundária de lactose diz respeito ao comprometimento da ação da lactase, normalmente resultante de uma lesão ou processo inflamatório da borda em escova do intestino delgado ou ainda situações em que aumentem significativamente o trânsito intestinal (como na doença de Chron, enterites infecciosas, diarreia persistente, dentre outras situações). Geralmente a sintomatologia tende a ser transitória à medida em que a mucosa intestinal se recupera.  Já a deficiência congênita de lactase é uma condição raríssima e tem início precoce, ainda nos primeiros dias de vida, nessa situação a enzima lactase está completamente ausente do organismo. O lactente apresenta uma diarreia líquida que evolui com a desidratação podendo levar ao óbito.

Para o diagnóstico é necessário uma anamnese detalhada com coleta de história familiar, sintomatologia clínica e exame físico. Clinicamente deve-se orientar a retirada do alimento ou dos alimentos alvos da investigação de intolerância por um determinado período de tempo e em seguida avaliar se houve o desaparecimento dos sintomas  Adicionalmente é possível a utilização de exames complementares como o teste de tolerância oral à lactose, a medição do pH fecal e pesquisa de substâncias redutoras nas fezes, teste respiratório de hidrogênio expirado e em casos a biópsia do intestino delgado com a finalidade de determinar a atividade da enzima lactase. Embora já haja disponibilidade da realização do teste genético dos genes C / C (-13910) e T / C (-13910), o mesmo deve ser considerado com uma opção alternativa, seu custo é elevado e deve ser utilizado de forma conservadora. 

O tratamento das intolerâncias alimentares incluem as medidas de restrição dietética. Atualmente existem no mercado nacional uma grande gama de produtos que são isentos desse carboidrato. Algumas medidas farmacológicas também podem ser utilizadas, especialmente na deficiência primária, como a reposição enzimática com lactose exógena. O manejo nutricional adequado é de suma importância tendo em vista que a exclusão de um alimento, ou grupo de alimentos pode acarretar em deficiências nutricionais. De modo geral as deficiências mais encontradas são as de cálcio, fósforo e vitaminas. No entanto quando a dieta é adequadamente ajustada e os produtos retirados substituídos por outras fontes de nutrientes, os prejuízos nutriconais deixam de ser observados.

A alergia alimentar é considerada hoje um problema de saúde pública, sendo definida como uma doença consequente de uma resposta anormal que pode ocorrer após a ingestão ou mesmo após o contato com determinado alimento. Os alérgenos alimentares mais comuns e responsáveis por até 90% de todas as reações alérgicas são: proteínas do leite de vaca, ovo, amendoim, trigo, soja, peixe, frutos do mar e nozes.

As proteínas do leite de vaca costumam ser as primeiras proteínas alimentares não humanas ingeridas pelos bebês, portanto a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é a alergia alimentar mais frequente nos primeiros meses de vida. A prevalência de APLV na América Latina é desconhecida, mas parece estar aumentando, como ocorre nos demais países do mundo. A APLV é definida como uma reação adversa a uma ou mais proteínas do leite de vaca, que são divididas em 2 grupos: a) caseínas e b) proteínas séricas. Neste último, destacam-se a alfa lactalbumina e a beta lactoglobulina.

O quadro clínico da ALPV pode ser muito variado e suas expressão podem se dar de maneiras diferentes. A sintomatologia acometendo o trata gastrointestinal é o mais clássico no entanto, a doença pode ser também manifestada por sintomas dermatológicos e/ou respiratórios. Essas manifestações clínicas podem ser classificadas pela temporalidade do aparecimento dos sintomas (imediata ou tardia), pelo órgão ou sistema afetado, ou ainda pelo tipo de mecanismo imunológico envolvido.

O diagnóstico das alergias alimentares é feito basicamente através de avaliação clínica, o que o torna por muitas vezes difícil. Ainda existe uma lacuna à ser preenchida por testes laboratoriais adequados e fidedignos que atestem a alergia alimentar. As etapas diagnósticas incluem a retirada do alérgeno potencial suspeito da dieta do paciente e o teste de provocação oral que é atualmente o padrão ouro para a comprovação diagnóstica. Os testes alérgicos são mais aplicados às alergias imediatas ou mediadas por IgE. A pesquisa de IgE específica pode ser feita através de teste in vivo (teste de puntura ou prick test) ou o teste in vitro (dosagem sérica de IgE específica). Teste de IgG específicas para alimentos não são úteis para o diagnóstico de alergia alimentar.

De acordo com o Consenso brasileiro sobre alergia alimentar a base do tratamento da alergia alimentar é essencialmente nutricional e está apoiada sob dois grandes pilares:

  • A exclusão dos alérgenos alimentares responsáveis pela reação alérgica com substituição apropriada;
  • A utilização de fórmulas ou dietas hipoalergênicas, em lactentes, em situações de APLV

Os objetivos do tratamento nutricional visam evitar o desencadeamento dos sintomas, a progressão da doença e a piora das manifestações alérgicas. Além de proporcionar à criança o crescimento e desenvolvimento adequados e evitando distúrbios nutricionais.

Em se falando de APLV, o tratamento baseia-se na exclusão de proteína da dieta, no entanto o quando esse tratamento é emprega em lactentes em amamentação exclusiva, submete-se a mãe à dieta de exclusão de leite de vaca e derivados com suplementação de cálcio e vitamina D, não devendo ser aconselhado o desmame precoce.

Para os lactentes que não estão em amamentação exclusiva, independente do motivo, ou ainda que fazem uso de fórmulas lácteas para complementação, as fórmulas hidrolisadas devem ser utilizadas. Os lactentes com APLV devem fazer uso de fórmulas sem a proteína intacta do leite de vaca, podendo ser extensamente hidrolisadas à base da proteína do leite de vaca (dieta semielementar ou hidrolisado proteico), aminoácidos livres (dieta elementar) ou de proteína isolada de soja (somente para crianças maiores de seis meses e sem manifestação gastrintestinal). Outra possibilidade para lactentes muito jovens é a relactação, que não deve ser esquecida, sempre enfatizando a exclusão de produtos lácteos pela nutriz. Mais recentemente, em alguns países se começa a utilizar a proteína hidrolisada de arroz que se mostra bastante eficaz na remissão dos sintomas entretanto mais estudos são necessários para comprovar a manutenção do estado nutricional das crianças que utilizam este tipo de fórmulas.

Em virtude de a retirada dos alimentos alergênicos da alimentação da criança ainda ser única forma disponível efetivamente eficaz no tratamento da alergia alimentar, a conduta nutricional deve contemplar a total exclusão do alimento reconhecido ou supostamente envolvido, inclusive os produtos dele derivados e de preparações que o contenham.

A identificação do alérgeno se faz fundamental, a fim de se manter a oferta alimentar qualitativa e quantitativamente adequada, evitando, portanto, o uso de dietas desnecessárias e muito restritivas. Além disso, a avaliação adequada do estado nutricional com o objetivo de planejar e adequar a ingestão às necessidades nutricionais da criança de acordo com os tipos de alimentos permitidos é prioritária. Todo empenho deve ser feito no intuito de realizar as substituições alimentares visando garantir a oferta nutricional adequada, alcançando-se as suas necessidades que devem atender as atuais recomendações nutricionais

Referências

  • TOCA MC et al. A Latin American pediatric gastroenterology group’s understanding of cow’s milk protein allergy diagnosis and treatment: Results of a survey by the Food Allergy Working Group of the Sociedad Latinoamericana de Gastroenterología, Hepatología y Nutrición Pediátrica. Revista de Gastroenterología de México (English Edition) 2020; In press.
  • DeGeeter C, Guandalini S. Food Sensitivities: Fact Versus Fiction. Gastroenterol Clin N Am 2018; 47:895–908.
  • Luthy KE, Larimer SG, Freeborn DS. Differentiating Between Lactose Intolerance, Celiac Disease, and Irritable Bowel Syndrome-Diarrhea. The Journal for Nurse Practitioners 2017; 13 (5): 348-353.
  • Solé D, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 1 -Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):7-38.
  • Solé D, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 2 – Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):39-82

Nutrição em pediatria

Alergia e Intolerâncias Alimentares

Atualmente os termos alergia alimentar e intolerância alimentar são utilizados com frequência por uma gama variada de pessoas, sejam elas profissionais da área da saúde ou não. No entanto, ainda existe especialmente pelo público não profissional da área da saúde, uma certa confusão entre os termos e o que de fato significam.

Em algumas situações é possível desencadear reações adversas à alimentos. Isso significa que o organismo responde de uma maneira “não esperada” à determinado alimento ou múltiplos alimentos. Essas reações adversas podem ser classificadas em dois grupos, de acordo com os mecanismos fisiopatológicos envolvidos:

  • Não imunomediadas ou não imunológicas

Esse reação adversa depende basicamente da substância ingerida, acarretando uma reação tóxica (por exemplo uma toxina bacteriana que gera uma intoxicação alimentar); das propriedades farmacológicas presentes em alimentos (por exemplo uma reação à cafeína presente no café); ou ainda pela fermentação e efeito osmóticos de carboidratos ingeridos e não adequadamente digeridos e/ou absorvidos, levando à uma reação adversa metabólica (o exemplo mais conhecido usualmente é a intolerância à lactose).

  • Imunomediadas ou imunológicas

Esse tipo de reação tem por característica o envolvimento do sistema imunológico, mediados ou não por IgE. Usualmente acabamos utilizando o termo “alergia alimentar” para nos referirmos à essas reações. Essas reações de hipersensibilidade à alimentos podem ser classificadas, de acordo com o mecanismo imunológico que está envolvido em: mediadas por IgE, não medidas por IgE ou mistas (medidas por IgE e hipersensibilidade celular).

As intolerâncias alimentares mais comumente encontradas na prática clínica são as intolerâncias à lactose e ao glúten. Estipula-se que a sensibilidade metabólica à lactose afete cerca de 60 a 70% das pessoas em todo o mundo. A deficiência primária de lactose (enzima responsável pela digestão do açúcar presente no leite, denominado lactose) é a causa mais comum de intolerância à lactose, encontrada com frequência na América do Sul, África, Ásia e em descendentes dessas áreas.

A sintomatologia tem correlação direta com o conteúdo de lactose ingerido e a quantidade remanescente da enzima lactase, sendo o quadro de desconforto abdominal, inchaços, gases e diarreia o mais comumente encontrados. A deficiência secundária de lactose diz respeito ao comprometimento da ação da lactase, normalmente resultante de uma lesão ou processo inflamatório da borda em escova do intestino delgado ou ainda situações em que aumentem significativamente o trânsito intestinal (como na doença de Chron, enterites infecciosas, diarreia persistente, dentre outras situações). Geralmente a sintomatologia tende a ser transitória à medida em que a mucosa intestinal se recupera.  Já a deficiência congênita de lactase é uma condição raríssima e tem início precoce, ainda nos primeiros dias de vida, nessa situação a enzima lactase está completamente ausente do organismo. O lactente apresenta uma diarreia líquida que evolui com a desidratação podendo levar ao óbito.

Para o diagnóstico é necessário uma anamnese detalhada com coleta de história familiar, sintomatologia clínica e exame físico. Clinicamente deve-se orientar a retirada do alimento ou dos alimentos alvos da investigação de intolerância por um determinado período de tempo e em seguida avaliar se houve o desaparecimento dos sintomas  Adicionalmente é possível a utilização de exames complementares como o teste de tolerância oral à lactose, a medição do pH fecal e pesquisa de substâncias redutoras nas fezes, teste respiratório de hidrogênio expirado e em casos a biópsia do intestino delgado com a finalidade de determinar a atividade da enzima lactase. Embora já haja disponibilidade da realização do teste genético dos genes C / C (-13910) e T / C (-13910), o mesmo deve ser considerado com uma opção alternativa, seu custo é elevado e deve ser utilizado de forma conservadora. 

O tratamento das intolerâncias alimentares incluem as medidas de restrição dietética. Atualmente existem no mercado nacional uma grande gama de produtos que são isentos desse carboidrato. Algumas medidas farmacológicas também podem ser utilizadas, especialmente na deficiência primária, como a reposição enzimática com lactose exógena. O manejo nutricional adequado é de suma importância tendo em vista que a exclusão de um alimento, ou grupo de alimentos pode acarretar em deficiências nutricionais. De modo geral as deficiências mais encontradas são as de cálcio, fósforo e vitaminas. No entanto quando a dieta é adequadamente ajustada e os produtos retirados substituídos por outras fontes de nutrientes, os prejuízos nutriconais deixam de ser observados.

A alergia alimentar é considerada hoje um problema de saúde pública, sendo definida como uma doença consequente de uma resposta anormal que pode ocorrer após a ingestão ou mesmo após o contato com determinado alimento. Os alérgenos alimentares mais comuns e responsáveis por até 90% de todas as reações alérgicas são: proteínas do leite de vaca, ovo, amendoim, trigo, soja, peixe, frutos do mar e nozes.

As proteínas do leite de vaca costumam ser as primeiras proteínas alimentares não humanas ingeridas pelos bebês, portanto a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é a alergia alimentar mais frequente nos primeiros meses de vida. A prevalência de APLV na América Latina é desconhecida, mas parece estar aumentando, como ocorre nos demais países do mundo. A APLV é definida como uma reação adversa a uma ou mais proteínas do leite de vaca, que são divididas em 2 grupos: a) caseínas e b) proteínas séricas. Neste último, destacam-se a alfa lactalbumina e a beta lactoglobulina.

O quadro clínico da ALPV pode ser muito variado e suas expressão podem se dar de maneiras diferentes. A sintomatologia acometendo o trata gastrointestinal é o mais clássico no entanto, a doença pode ser também manifestada por sintomas dermatológicos e/ou respiratórios. Essas manifestações clínicas podem ser classificadas pela temporalidade do aparecimento dos sintomas (imediata ou tardia), pelo órgão ou sistema afetado, ou ainda pelo tipo de mecanismo imunológico envolvido.

O diagnóstico das alergias alimentares é feito basicamente através de avaliação clínica, o que o torna por muitas vezes difícil. Ainda existe uma lacuna à ser preenchida por testes laboratoriais adequados e fidedignos que atestem a alergia alimentar. As etapas diagnósticas incluem a retirada do alérgeno potencial suspeito da dieta do paciente e o teste de provocação oral que é atualmente o padrão ouro para a comprovação diagnóstica. Os testes alérgicos são mais aplicados às alergias imediatas ou mediadas por IgE. A pesquisa de IgE específica pode ser feita através de teste in vivo (teste de puntura ou prick test) ou o teste in vitro (dosagem sérica de IgE específica). Teste de IgG específicas para alimentos não são úteis para o diagnóstico de alergia alimentar.

De acordo com o Consenso brasileiro sobre alergia alimentar a base do tratamento da alergia alimentar é essencialmente nutricional e está apoiada sob dois grandes pilares:

  • A exclusão dos alérgenos alimentares responsáveis pela reação alérgica com substituição apropriada;
  • A utilização de fórmulas ou dietas hipoalergênicas, em lactentes, em situações de APLV

Os objetivos do tratamento nutricional visam evitar o desencadeamento dos sintomas, a progressão da doença e a piora das manifestações alérgicas. Além de proporcionar à criança o crescimento e desenvolvimento adequados e evitando distúrbios nutricionais.

Em se falando de APLV, o tratamento baseia-se na exclusão de proteína da dieta, no entanto o quando esse tratamento é emprega em lactentes em amamentação exclusiva, submete-se a mãe à dieta de exclusão de leite de vaca e derivados com suplementação de cálcio e vitamina D, não devendo ser aconselhado o desmame precoce.

Para os lactentes que não estão em amamentação exclusiva, independente do motivo, ou ainda que fazem uso de fórmulas lácteas para complementação, as fórmulas hidrolisadas devem ser utilizadas. Os lactentes com APLV devem fazer uso de fórmulas sem a proteína intacta do leite de vaca, podendo ser extensamente hidrolisadas à base da proteína do leite de vaca (dieta semielementar ou hidrolisado proteico), aminoácidos livres (dieta elementar) ou de proteína isolada de soja (somente para crianças maiores de seis meses e sem manifestação gastrintestinal). Outra possibilidade para lactentes muito jovens é a relactação, que não deve ser esquecida, sempre enfatizando a exclusão de produtos lácteos pela nutriz. Mais recentemente, em alguns países se começa a utilizar a proteína hidrolisada de arroz que se mostra bastante eficaz na remissão dos sintomas entretanto mais estudos são necessários para comprovar a manutenção do estado nutricional das crianças que utilizam este tipo de fórmulas.

Em virtude de a retirada dos alimentos alergênicos da alimentação da criança ainda ser única forma disponível efetivamente eficaz no tratamento da alergia alimentar, a conduta nutricional deve contemplar a total exclusão do alimento reconhecido ou supostamente envolvido, inclusive os produtos dele derivados e de preparações que o contenham.

A identificação do alérgeno se faz fundamental, a fim de se manter a oferta alimentar qualitativa e quantitativamente adequada, evitando, portanto, o uso de dietas desnecessárias e muito restritivas. Além disso, a avaliação adequada do estado nutricional com o objetivo de planejar e adequar a ingestão às necessidades nutricionais da criança de acordo com os tipos de alimentos permitidos é prioritária. Todo empenho deve ser feito no intuito de realizar as substituições alimentares visando garantir a oferta nutricional adequada, alcançando-se as suas necessidades que devem atender as atuais recomendações nutricionais

Referências

  • TOCA MC et al. A Latin American pediatric gastroenterology group’s understanding of cow’s milk protein allergy diagnosis and treatment: Results of a survey by the Food Allergy Working Group of the Sociedad Latinoamericana de Gastroenterología, Hepatología y Nutrición Pediátrica. Revista de Gastroenterología de México (English Edition) 2020; In press.
  • DeGeeter C, Guandalini S. Food Sensitivities: Fact Versus Fiction. Gastroenterol Clin N Am 2018; 47:895–908.
  • Luthy KE, Larimer SG, Freeborn DS. Differentiating Between Lactose Intolerance, Celiac Disease, and Irritable Bowel Syndrome-Diarrhea. The Journal for Nurse Practitioners 2017; 13 (5): 348-353.
  • Solé D, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 1 -Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):7-38.
  • Solé D, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 2 – Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):39-82